Vis a Vis, El Oasis, 2020
Merda! Como eu amo essa série.
Algumas críticas e pessoas estão falando por aí que não entenderam umas coisas, que ficou muito coisa em aberto e que os diálogos foram rasos. Acho engraçado, pois querem saber o que não precisam saber, ninguém precisa saber quem é o pai da filha de Maca, pois ela optou tê-la sozinha, ninguém precisa saber como foi a relação sexual de Maca com Zule, mas querem, porque trata-se da vida sexual reprodutiva de mulheres. Mas bom, isso não me importa.
O que me importa é a construção de cada personagem, em especial da Zulema, eu tenho vontade de abraçar ela e ainda assim me sentir desconfortável em sentir isso, penso que é assim que Zule se vê e se sente também.
“Uma mulher que sempre anda correndo”… para quem não sabe Zule foi vítima de casamento forçado, muito comum nas comunidades árabes, ela fugiu e para se manter tornou-se criminosa, mas uma crimisona que mata estupradores e ama mulheres, então acho que fez muito à ela, inclusive para quem não vê profundidade nos diálogos de Zule, viu a série errada ou não entende de relações entre mulheres e, digo, o erro é vocês acharem que mulheres só conseguem expor sentimentos se expô-los de maneira romantizada, erro o seu, mulheres que fazem isso, geralmente, não conseguem fazer 1/3 do que ela faz e provavelmente estaria casada com um babaca.
Pois bem, Zulema é uma personagem extremamente complexa e você dúvida disso, assim como todos os homens da série que sempre duvidaram de sua postura, mesmo vendo diante de seus olhos o que ela era capaz de fazer. Por que será? Porque esperam a mulher tomar rédeas. Esperam que elas, em algum momento, se deleitem à culpa das religiões monoteístas e se sacrifiquem por algum homem, seja ele pai, irmão ou marido. Lembrem-se de todas as mulheres dessa temporada e veja o que os homens esperavam delas; o irmão esperava que a irmã fosse sempre fiel às vontades dele, a filha sempre à disposição das vontades do pai (aqui temos mais um casamento forçado) e o marido abusador da filha e da esposa que tenta se redimir usando o nome da família feliz, pois é, percebo que essa série tem uma grande crítica ao matrimônio e ao patrimônio conquistado por homens; pois é, nenhuma delas se perde na loucura do empoderamento, porque elas estão na linha de frente de suas vidas e sobreviver é mais importante e a coisa mais legal é que elas sabem sim o que fode elas por serem mulheres.
Assim como já falei sobre algum filme aí que quis vender representividade feminina nas artes; falo aqui de novo, ah, lembrei, foi sobre Capitão Marvel: “uma arte não precisa ficar se vendendo como tal coisa, se é tal coisa, apenas mostre”, então isso fica ainda mais possível numa produção áudiovisual, certo?
Logo, fico feliz que essa série cumpriu o que tinha que cumprir. Não romantizou em nenhum momento nada, nem a doença, nem a morte, muito menos a vida, porque elas entenderem que o momento é o agora, o futuro só existe por isso, assim como o passado também.
Obrigada Zulema, você foi muito importante pra mim como personalidade na áudiovisual; muito mesmo! Parece bobagem, mas é isso.
Deixei essa imagem que é da Saray dançando para Zulema, a dança representa muita coisa e eu também gostaria de uma despedida assim.