gi del fuoco
3 min readNov 23, 2021

Selva Trágica (2021): o místico patriarcal branco

Fico pensando se não houvesse colonização… como seria a retratação de todos esses mitos mesoamericanos. Aqui, nesse filme, temos que na sinopse aponta ser sobre um casamento forçado entre Agnes, uma mulher negra e um ex-escravo. No filme aponta isso, mas sei que o casamento arranjado tinha que ter pelo menos o homem livre, a mulher não, pois com seu ventre escravizado, seria bebês escravizados. Bom, ela foge. É bem comum ter essa ação entre as mulheres que são forçadas a casar. Há uma leitura brasileira que eu adoro e sempre indicado chamado “Caetana diz não”.

No comeco você fica meio curioso com o que vai acontecer, porque é a contacão de um mito Maia, eu que adoro mitos mesoamericanos sei qual o mito, mas se fosse um grego ou romano, eu iria facilmente me confundir, sei só de alguns específicos.

O mito é sobre La Xtabay, uma entidade da floresta que usa de sua beleza incomparável para seduzir os homens e os leva para sua morte.

Sim, também tem o mito da sereia e outros tantos mitos mitos falam da mulher fatal, para mim, isso é coisa de colonizador.

Bom, Agnes consegue fugir pela floresta, lembrando que ela é uma mulher negra e está numa floresta no México.

Agnes encontra o grupo de extratores indígenas, a história foca no relacionamento estranho que eles desenvolvem. Incialmente bastante curiosos um com os outros, depois parece que há uma compreensão, mas também um desejo dos homens de sujeitar aquela mulher sobre seu poder sexual. Isso é mostrado não só nas cenas sadomasoquismo que há ali, mas também na forma que eles começam a divergir entre si e a perderem o foco de suas ações conforme o desejo por Agnes cresce em cada um deles. Até que há o momento do estupro na selva e o estuprador morre.

Assim, gente, entendo que é sobre o sobrenatural e o místico pra contar o mito, mas essa narrativa é tão ultrapassada que me deu raiva. Além de ter várias coisas que tangencial à situação.

Uma delas é a disputa dos homens negros vs homens indígenas pela Agnes, sendo que esse primeiro grupo é controlado por um homem branco e esse segundo grupo controlado por um homem indígena que se parecem muito em termos de comportamento. Logo, o patriarcado consegue ultrapassar a linha dos fenótipos quando a ideia é controle. Deveriam ter desenvolvido melhor.

Outro ponto é que são um grupo de indígenas desejando uma mulher negra e parecendo ser mais agressivo que os homens brancos que estão ali, porque os homens brancos não aparecem.

Homens brancos não ficavam na mata?

Outro ponto é: se ela como La Xtabay tem poder de matar homens, porque não matou o homem branco que matou sua melhor amiga???

O miticismo sempre é reformista.

Sem falar na relação dos capitães-do-mato com o homem branco. Por isso não confie em quem faz alianças com quem nos oprime.

O mais interessante é: todos os homens ali se reconhecem, sabem dizer quem é índio, quem é o negro, quem é o branco.

Mas a mulher não tem identidade. Não tem voz. Há um silêncio.

Será que o silêncio adquirido por nós mulheres do terceiro mundo é uma forma de proteção também? Por exemplo, muitas ali não falavam a mesma língua (linte), Agnes mesmo não diz um depois de encontrar os extratores. Será que foi propositadamente? Lembro que La Xtabay dialogava.

Enfim, fica nossos questionamentos e muitas pesquisas para serem feitas.

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Written by gi del fuoco

Como me ensinaram a linguagem, vou usá-la afiada.

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