Para Sama (2019) e o registro das mulheres em situação de guerra
A cineasta síria Waad al-Kateab me fez chorar tanto que eu nem sei se tenho algum líquido ainda em meu corpo.
Esse documento é o documentário de guerra mais bonito que já vi, olha que documentário de guerra já vi muito.
Enfim, aqui fala-se de Aleppo, também conhecida como “Stalingrado da Síria”, pois os russos depois de matar mais de 300.000 mil civis venceram a batalha em apoio ao governo de Bashar al-Assad. Claro, eles não querem dar terreno para Israel e Estados Unidos, mas, minha nossa, que sofrimento. Dá raiva de todo mundo ali, ainda mais do exército russo que é o aparelho repressor desse governo. Nem tente negar.
Bom, a guerra ainda não acabou, em 2020, fez 10 anos de confronto. Várias regiões sírias ainda escapam do cerco das tropas do regime. No leste, as curdas controlam vastos territórios, mesmo que seu projeto de autonomia tenha sido enfraquecido em grande parte pelo desengajamento parcial dos americanos e pelas ofensivas da Turquia.
Mas bom, vamos falar do documentário.
Aleppo perdeu. As pessoas ali perderam. Tudo. Eu chorei com a imagem de quando um marido dá à esposa um caqui, tem noção? O caqui, naquele contexto, tornou-se o tudo.
Falo que tem uma parte bonita, não a guerra, mas o que a cineasta conseguiu mostrar, o que é ser a câmera, o que é ser tudo aquilo ali, o que é ser uma mulher gravando uma guerra.
As crianças ali não fazem coisas de crianças. Perdem os seus pais em um bombardeio dormindo e também são elas que levam seus irmãos para o hospital (isso me doeu tanto, são imagens muito fortes mesmo). A morte não é um problema pra ninguém ali, a saudade também não, nem o luto, o problema é viver e não querer morrer. Eles não querem morrer, não por um regime, não por uma guerra que você não tem como se defender, a guerra não é sua. A guerra nunca foram delas.
Embora tenham tentando de 2012 a 2016 derrubar o Assad, os rebeldes livres como eles se chamam, entenderam que precisavam salvar os deles também, aqueles que não conseguem estar na linha frente, revolução contra um país que é maior símbolo de revolução do mundo, COMO???
Porra, Rússia! Nesse exato momento sinto ódio. Não mais comoção, estão certas as curdas em ser célula autônoma e dar tiro em todo mundo.
Como a cineasta Waad diz milhões de vezes: nunca confie nas tropas, independente de qual seja, nunca confie. Elas não querem negociar com civis, nunca quiseram, o que temos em troca?
