O mundo odeia mulheres que não deitam para serem pisadas
Sobre você, sobre mim, sobre nossas diferenças, mas também sobre nossas experiências enquanto mulher.
O mundo sempre pisou e esmagou as mulheres, acho que quem está por dentro dos estudos sobre isso, percebem isso em “A Criação do Patriarcado” o livro da Gerda que está em alta, sabemos como há um enorme esforço para sermos apagadas, mas antes disso acontecer, devem nos sacrificar, nos queimar, nos cancelar, nos destruir, nos pisar, assim como fizeram com as bruxas. Mas esquecem que as bruxas nada mais eram que mulheres.
É muito duro estudar mulheres. Mulheres são diversas, tem suas diferenças, algumas sofreram e sofrem mais com os sistemas patriarcais e com o sistema capitalista e racista, mas em maior ou menos grau, mulheres sofrem por serem mulheres. E nesse processo nos machucamos. Nos machucamos por querer nos entender, nos registrar, nos reconhecer e, o mais principal, querer nos humanizar.
Temos que nos provar 10x mais por sermos mulheres todos os dias, principalmente quando é sobre a vida pública. Não basta sermos o que somos e como somos. Temos que mostrar que estamos ali porque merecemos, para além de sermos mulheres. Por isso a figura da mulher forte vira um ícone, tal como Mulher-Maravilha. Mas isso acontece só porque ela tem poderes? Ou como a Martha, isso só acontece porque ela é a melhor jogadora do mundo? Não merecemos nenhum reconhecimento humanizado só por ser mulher? Não estou falando de troféus, de prêmios de reconhecimento mundial, mas de respeito, sobretudo.
Com as inúmeras brigas sobre a J.K Rowling, vi várias defendo-a com as seguintes palavras: “ela é uma excelente escritora, ela levou Harry Potter para o cinema e isso abriu portas para mil coisas do gênero”, mas esse discuso não é um tanto meritocrático? Devemos ter um currículo genial para não sermos pisadas? Ser mulher não basta para ser humanizada?
Parece que não.
O processo de não deixar ser pisada é o processo de se humanizar. É o processo de negar o controle externo (todo santo dia) e isso nem sempre vai dar certo. É o processo de se apropriar. E isso, agora falando de mim, Gi Del Fuoco, para você que está lendo, me ajudou a humanizar outras mulheres, todas as mulheres, para além do bem e do mal.
Não deveríamos ser gratas por conseguir escalar o Everest todo dia enquanto homens tem “os seus” garantidos. Não deveríamos ganhar o símbolo de guerreira quando você passou o maior sufoco ao criar os filhos sozinha. Não deveríamos ganhar parabéns por conciliar carreira e trabalho doméstico. Não deveríamos ter nossos sofrimentos como os maiores estampadores do que somos.
Não deveríamos ser obrigadas a nos apresentar com o currículo lattes para termos espaços para serem ouvidas em falar sobre nós mesmas ou qualquer outro assunto até numa mesa de bar.
Sentir isso é horrível. E isso é mais forte quando você é mulher pobre e de cor, tem lugares que parece que não é para você, muito menos quando o assunto é profissional. “Mas onde você estudou?” “Onde você trabalha?” “De onde você vem?” “Quem são seus pais?”
Eu queria poder parar de ter que me afirmar assim para ser reconhecida, pelo menos, como pessoa, mas ainda não posso. Eu me humanizei e humanizei as mulheres. Mas o mundo, que é dos homens, principalmente dos capitalistas, não me humanizaram e é por isso que eles vão sempre me odiar.
Porque eu não deito para ser pisada.