Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta — 2021
É um clichê que todas as meninas deveriam ter na vida. “Ai, mas é um tanto liberal”. Sim, mas nem tanto. O fato de ter uma caída pelo discurso “meu corpo, minhas regras”, isso é fácil de combater, mas ao mesmo tempo é o primeiro acesso à autonomia dos corpos, principalmente para as meninas, mas adianto, não existe “meu corpo, minhas regras”, isso fica claro com o fim do filme que é sobre a invasão do corpo de uma menina, mas não vou dar spoilers.
Moxie é um filme bom, um filme de coletividade e eu me emociono muito com isso. Primeiro porque foi através da união politizada que me senti (individualmente) pertencente a um espaço dentro de uma escola. Fora isso era um rostinho bonito e cdf demais; uma combinação que não compete com o espaço escolar, bem como o patriarcado ou o iluminismo, ele não aceita ambiguidades. Por fim, chorei com o filme, claro.
Eu sou bem chorona e por essas outras eu gosto de filme, pelo menos tenho justificativas boas para chorar que não seja por amor, né? Rs
Moxie mostra a trajetória de qualquer menina quando entende que vai se foder na vida por suas condições biológicas ou étnicas. Mesmo tendo acesso à conscientização do seu eu político, nada disso é suficiente, nem a coletividade por si só, porque se tem uma coisa complicada é a coletividade, mas mostra que dá para superar isso desde que entendemos o que enquanto individuas podemos contribuir da melhor forma.
O que eu gostei desse filme é uma coisa muito simples: existem aquelas que são linha de frente e as que não e quem consegue ser ambas as coisas.
O fato da criadora de Moxie ser super na dela não muda ainda o fato dela ser criadora e incentivar isso nas outras moças. Claro que por ela ser branca ela tem menos chances de se ferrar, mas né, é isso, talvez isso explique porque ela é tão na dela, ela, embora precise se proteger, terá algumas coisas mais facilitadas por sua cor e classe, né?
Também tem as moças negras, gosto, mas também penso, elas não podem descansar, né? Precisam ser combativas o tempo inteiro e isso é extremamente cansativo. Mas são elas por elas.
Também tem a coreana, sim, ficou muito bem representado como são as mulheres orientais, a ideia da obediência… me irrita muito? Sim! Mas o problema não são elas literalmente, mas sim a cultura que as fazem ser submissas, ainda mais quando você é emigrante. Essa discussão é super importante porque as mulheres são diversas, mas, no fim, fica uma coisa que tenho pra mim sempre: não existe relativismo cultural onde todas as culturas buscam sempre controlar a mulher.
Sobre o menino legal no filme, ok, ele só é um menino legal e não merece aplausos por isso. E sabe as meninas explodem mesmo, erram, assim como muitos meninos, né? Vão tacar a moça na fogueira porque errou? Se essa cena te chama mais atenção do que o garoto popular sendo misógino, caramba, parabéns.
Sobre a trilha sonora: aaaaaaaaaaa, eu queria ter sido uma riot girrrl, ou não. Sei lá, ao ouvir tudo aquilo, ver a banda das meninas, senti uma falta de ir em show de mulher que é muito diferente dos de homem, né? Acho que é uma das minhas grandes saudades.
E outra eu chorei em ver a confecção de zine, saudades, né Saudade feira anarquista das mulheres, olha, esse filme é sobre saudade, sobre coletividade, sobre produção, sobre amor e sobre autocuidado, porque poder gritar é autocuidado. AAAAAAAAAAAAAA.