Janes Mulheres Anônimas (2022): lutar podia ser sinônimo de mulher

gi del fuoco
4 min readJul 12, 2022

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Toda a vez que assisto algo documental relacionado às histórias das mulheres eu sempre aguardo o momento em que vou me arrepiar e chorar. Porque assistir mulheres contando suas histórias é uma das coisas mais bonitas que eu posso presenciar desde que escolhi viver em prol de uma vida melhor para as mulheres. Com esse documentário feito pelas cineastas Emma Pildes e Tia Lessin ficou ainda mais claro que a palavra lutar podia ser sinônimo da palavra mulher e que eu sempre posso aprender mais sobre os assuntos que estudo há anos, digo isso porque o mundo, mesmo que tenha a ideia universal de opressão às mulheres, ainda faz com que os contextos locais mudem a forma de organização das mulheres mesmo quando o objetivo é comum e universal.

Nesse documentário temos, mais uma vez, mulheres que se organizam pela liberação do aborto. A verdade é que mais me chama atenção e mais me conforta ao querer entender as mulheres é que muitas chegam nessa pauta por diversos motivos, algumas porque, nos anos 60/70 queriam paz, outras queriam mudanças em relação aos Direitos Civis das classes oprimidas, outras porque eram contra o segracionismo promovido por supremacistas brancos, outras porque não entendiam o porquê das pautas das mulheres serem apenas “uma questão”, “um recorte” e não uma prioridade nas lutas dos movimentos sociais, outras porque entenderam que sua experiência individual não era tão pessoal assim, outras mulheres partilhavam da mesma emoção, do mesmo sentimento, das mesmas consequências e, logo, do mesmo pensamento.

A luta por aborto se torna importante porque é sobre vida das mulheres. Vai além de sermos contras as leis repressoras às mulheres, é sobre viver. Mulheres morrem por não conseguirem abortos seguros. Mulheres entram em crises psicológicas por conta da maternidade compulsória. Mulheres são excluídas de suas próprias vidas por falta de entendimento do que é autonomia e falta esse entendimento porque não somos vistas como seres humanas.

E é por isso que eu não desisto de lutar pelas mulheres. Desistir disso é permitir que sejamos apagadas historicamente e agora, é invalidar todas as lutas das mulheres que me quiserem livre no agora e eu entendo que a minha luta, a sua luta é para querer outras mulheres livres no futuro.

Não é aceitável que a política feita por homens ainda ditem o que mulheres podem e não podem fazer no espaço público. Continuamos sendo apagadas, não só pelos conservadores e/ou reacionários e/ou fascistas, mas também por aqueles que continuam colocando as pautas das mulheres como um dos últimos itens na sua lista de luta politica.

O quanto você prioriza a luta das mulheres? Estamos morrendo quando só queremos viver. O quanto você prioriza a luta das mulheres? Estamos cansadas de sobreviver. O quanto você prioriza a luta das mulheres? Estamos sempre com medo dos próximos passos de um mundo que nos odeia.

Ser rebelde não elimina o medo, na verdade, penso que esse medo de ser mulher, nascer mulher, tornar-se mulher, é um fator em potencial para sermos rebeldes. Ser uma mulher total longe de todas as amarras que o patriarcado junto ao capitalismo nos coloca diariamente, mas eu sei que cansa, eu sei que você está cansada, companheira, eu sei que você não vê sentido em lutar, mas a sua sobrevivência sempre foi sobre isso… lutar. Continue, não pare. Lutar pela liberdade é uma das coisas mais potentes e isso só vem de quem realmente quer ser livre.

Ser livre não é fácil, vão te prender, vão te machucar, vão te alienar, mas não temos potencial para sermos apenas as vítimas das histórias heroicas dos homens saudáveis do patriarcado. Também, diferente de Dworkin que pede uma trégua de 24 horas dos estupros, eu não quero pedir nada a aqueles que nunca nos ofereceram o mínimo de humanidade, a nossa humanidade já existe, mas precisamos tomar consciência dela e exercermos de forma autônomas, até fazerem ter medos de nós, assim como os policiais da Delegacia de Homicídio tiveram quando viram as mulheres se organizando e elas mesmas fazendo os procedimentos para ajudar outras mulheres: monstruosas.

Se existe ainda essa história de herói, as minhas são aquelas que são vistas com monstras pela lei. Por desrespeitar a lei que desrespeita mulheres.

As Janes poderia estar ocupando qualquer narrativa medíocre sobre heróis que salvam a humanidade, mas esquecem que a humanidade é formada pela maioria por mulheres.

E aí, vamos fazer nossa história?

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Written by gi del fuoco

Como me ensinaram a linguagem, vou usá-la afiada.

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