“Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela”, 2021 e a instituição masculina — masculinismo #FREEBRITNEY

gi del fuoco
3 min readApr 5, 2021

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Nueva Mujer — Google Imagens

Eu sempre gostei da Britini (para os íntimos). Acho que quando você vai crescendo nos anos 2000, desenvolvendo seus gostos, vendo essas mulheres que do nada estouram, você se identifica.

Lembro como se fosse ontem aquele episódio com a Lindsay Lohan (que também tem uma vida bem traumática) e a Paris Hilton, eu ri, confesso, eram mulheres jovens e ricas, sendo mulheres jovens e ricas, não chegou a me passar na cabeça o quão traumático é ser isso.

Antes que venham com a discussão, são mulheres brancas e ricas, isso tudo entra em questão se estivéssemos falando de raça e classe, mas aqui quero falar de outra coisa, da institucionalização do poder patriarcal, o masculinismo.

Britney era uma moça pobre como qualquer outra, mas ela conseguiu aprimorar-se, fez aulas de canto, mudou de cidade, teve instruções, mas espera, há um problema aqui. Ela era uma criança. Depois adolescente e depois adulta. O que fez com seus abusos só aumentassem cada vez mais, pois adultizaram a criança e infantilizaram a mulher adulta.

Coisa que acontece com as meninas e mulheres na cultura pop. O ser sensual flertando com o pensamento pedófilo. O ser angelical flertando com a virgindade mas ao mesmo tempo com a vadia.

Britney caiu nessa com muitas outras moças caem na indústria pop.

Ela queria ver aquilo como um trabalho, como se estivesse vendendo um produto, mas ela esquecia que o produto se tornou ela mesma. O capitalismo faz isso, nos tornam coisas, mas isso piora quando você é mulher, daí vem o que chamamos de dissociação.

A gente dissocia mesmo, mulheres fazem muito isso, fazem para não ter que reviver traumas, pois nossas vidas são cheias de traumas, cheias, muito cheias, como são.

Assim como Sinéad O’Connor raspou seus cabelos e disse que aquilo era um ato que fazia por ela mesma para não ser objetificada, Britiney também utilizou do mesmo elemento.

Ela, uma mulher e sendo mãe tendo toda sua vida exposta, tendo que implorar por privacidade, ao ponto de ter que defender sua integridade, pois a imagem da mulher é muito importante para nós, portanto autopreservação é nossa autodefesa, ela também raspa seus cabelos para romper com tudo aquilo que estava pensando.

Uma menina que tinha sido exposta por Justin Timberlake — “eu fodi ela!”

Uma mulher que tinha sua vida exposta, tão exposta, que apresentadores de TV, sentiam-se no direito de perguntar sobre seus seios.

Uma mulher que teve o direito à maternidade negado, mas o de parir e de carregar junto ao seu nome o “má mãe” não, isso foi aceito.

Uma mulher que se viu frágil, onde todos queriam proteger, mas não conseguiam, porque toda proteção é seguida de um interesse.

Por fim, uma mulher adulta explorada. Que tem saúde para trabalhar e ganhar milhões, mas não tem saúde mental para cuidar de si. É isso que querem sobre uma mulher. Apenas um corpo.

Somos apenas um corpo. Um corpo bonito. Fragmentado. Dilacerado.

Se você muda, por você, por algo que você sente, por qualquer coisa, pronto, você surtou. Surtou porque teve o mínimo de autonomia sobre seu corpo, surtou.

É isso que dizem sobre a Britney.

Ela não pode ter autonomia sobre si. Só se ela aceitar ser controlada, pois é esse o “destino” de meninas pobres; contratos.

Me doeu saber de sua história.

Sei que muitas de nós somos isso: contratos.

#FREEBRITNEY

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Bj
@historiadora.radical

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gi del fuoco
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Written by gi del fuoco

Como me ensinaram a linguagem, vou usá-la afiada.

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