Coisa mais linda, 2020
Quem me acompanha sabe que eu resumi a primeira temporada em “fanfic de adolescente”, bom, nessa segunda temporada não mudou muita coisa e vou dizer porquê:
- A ideia de que feminismo é igualdade:
A série está contextualizada nos anos 50 e trata-se de mulheres da classe média que são viajadas pelo mundo, tem um certo conhecimento de teorias, de direitos, de certos machismos. De outro lado temos mulheres negras e pobres que sofreram coisas que as mulheres da classe média não sofreram, como racismo e miséria. Nesse sentido, acho que a diretoria (um homem e uma mulher) deixou claro que algumas coisas não eram fáceis de serem entendidas, mulheres são diferentes e diversas, logo penso que por isso ela não adentrou mesmo no assunto.
Mas há um erro grotesco que é achar que toda mulher quer ser um homem. Talvez, porque nessa sociedade o homem-branco-hétero-rico é o que mais tem vida boa, ele é o melhor modelo de homem econômico e claro, porque não segui-lo? Se é por igualdade, então, que sejamos iguais a eles?
Mas antes de tudo eu vou falar do que estava acontecendo no Brasil…
- Em 1922, fundou-se a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, onde os principais objetivos eram a batalha pelo voto e livre acesso das mulheres ao campo de trabalho. Em 1928, é autorizado o primeiro voto feminino (Celina Guimarães Viana, Mossoró-RN), mesmo ano em que é eleita a primeira prefeita no país (Alzira Soriano de Souza, em Lajes-RN). Ambos os atos foram anulados, porém abriram um grande precedente para a discussão sobre o direito à cidadania das mulheres.
- Em 24 de Fevereiro de 1932, no governo de Getúlio Vargas, é garantido o sufrágio feminino, sendo inserido no corpo do texto do Código Eleitoral Provisório (Decreto 21076) o direito ao voto e à candidatura das mulheres, conquista que só seria plena na Constituição de 1946. Um ano após o Decreto de 32, é eleita Carlota Pereira de Queiróz, primeira deputada federal brasileira, integrante da assembleia constituinte dos anos seguintes.
Durante o período que antecede o Estado Novo, as militantes do feminismo daquele momento divulgavam suas ideias por meio de reuniões, jornais explicativos, e da arte de maneira geral. Todas as formas de divulgação da repressão sofrida e os direitos que não eram levados em consideração, eram válidas. Desta forma, muitas vezes aproveitam greves e periódicos sindicalistas e anarquistas para manifestarem sua luta, conquistas e carências. O que levou a esquerda da época ser extremamente violenta com a organização de mulheres.
Entre os dois períodos ditatoriais vividos pelo Brasil, o movimento perde muita força. Destacando conquistas como a criação da Fundação das Mulheres do Brasil, aprovação da lei do divórcio, e a criação do Movimento Feminino Pela Anistia no ano de 1975, considerado como o Ano Internacional da Mulher, realizando debates sobre a condição da mulher. Nos anos 80 foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, que passaria a Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher, e passou a ter status ministerial como Secretaria de Política para as Mulheres. O que não existe mais atualmente, o governo Bolsonaro excluiu esse ministério.
A partir da década de 60, o movimento incorporou questões que necessitam melhoramento até os dias de hoje, entre elas o acesso a métodos contraceptivos, saúde preventiva, igualdade entre homens e mulheres, proteção à mulher contra a violência doméstica, equiparação salarial, apoio em casos de assédio, entre tantos outros temas pertinentes à condição da mulher. Mas as organizações de esquerda, em combate com a ditadura militar, dizia que isso não tinha tanta importância para o atual cenário. Logo, a esquerda sempre excluiu mulheres.
Fazendo esse apanhado, a série que está lá nos anos 50, não estavam vivendo o Brasil da época, se quer, comenta qualquer evento que ocorrera, é sobre a vida de cada mulher que por acaso se cruzam e tudo vira um grande jogo de tetris em que basta você encaixar peças para que tudo dê certo, e o pior, deu certo. O bar, os amores, o feminicída não foi condenado pela morte da esposa e se suicida.
As festas no Copacabana Palace se torna marco de que tudo está resolvido, elas venceram, mas venceram o quê? Se tornar aquele modelo de homem que a gente luta contra?
Em nenhum momento há críticas ao capitalismo e eu sempre estranho isso; uma série que mostra problemas sociais e não citar capitalismo é um tanto suspeita.
Outro ponto que me chamou bastante atenção é: as mulheres e o sex-positive, parece que a todo momento elas querem transar, querem se empoderar, mas a vida delas só giram se tem um homem ali para elas mostrarem que estão no controle de sua sexualidade, nisso o feminismo liberal ganhou inúmeros pontos, a mulher pegadora chega a ser um troféu, para os homens, claro. A ideia de não precisar de um casamento para se manter é até interessante, mas quem podia isso? A série não deixa nada claro, a série tem várias frases de efeito do feminismo, mas algumas não eram possíveis ali nos anos 50, onde havia trocentas revistas para mostrar como ser a esposinha perfeita, essas mulheres jamais seriam aceitas assim com tanta facilidade, só se você tivesse servindo para outro algo, elas estão? O produtor? As indústrias de álcool? De cigarro? Estão contribuindo para que os homens que estão no topo continuassem no topo? Pensou?
É só mais uma série que quer ser histórica mas com uma pesquisa péssima. Também me arrisco em dizer que tentou copiar Las chicas del cable, mas de uma forma meio ruim e deu toda essa romantização aí.