Blondie: Hollywood mata muitas vezes Marilyn Monroe — e isso é violência patriarcal

gi del fuoco
4 min readOct 19, 2022
Historiadora Radical — gi del fuoco

Não é nenhuma novidade que a todo momento tentam colocar Marilyn Monroe ( 1926–1962) como uma bela mulher que só é mesmo uma bela mulher e, por conta disso, não pode passar dos seus 36 anos. O filme Blondie (Netflix — 2022) é uma produção que disfarçada de arte retrata nos seus 2h09min violência contra a mulher, nesse caso, contra Marilyn.

Marilyn é apresentada para a gente desde a sua infância com uma grande probabilidade de desenvolver uma personalidade carente, tudo isso por conta de que seu genitor não cumpriu a obrigação do exercício da paternidade, logo sobrou para a sua mãe, que também era uma mulher bonita, modelo fotográfico e, por vez, mãe solo.

Imagem: wix.com

Gladys Pearl Baker, mãe de Marilyn, é retratada no filme como uma mulher que devido à solidão não consegue cuidar de sua filha, entra num estado psíquico que a faz cometer atos de violência contra si e sua filha e é internada. Essa narrativa não é uma novidade na vida das mulheres, pois a partir do desenvolvimento da psicologia, ficou entendido que mulheres tinham mais probabilidade de serem histéricas quando não tinham a presença de um homem em suas vidas. Logo, não foi diferente na vida de Gladys. Marilyn, na verdade, parece sempre ter compreendido sua mãe, nunca a abandonou, mesmo que tenha demorado o esclarecimento do porquê sua mãe fez tudo aquilo, mas, na verdade, Marilyn também foi e é vítima de violência patriarcal, ainda é porque mesmo depois de sua morte, ela ainda continua sendo hipersexualidade.

Daí, podemos entender que como homens enxergam mulheres que chamam atenção pela sua beleza, no filme, temos Marilyn que é o ideal para a narrativa de “loura burra”. Sim, conceito misógino. Para exemplicar melhor, irei utilizar o termo de Andrea Dworkin e de Gail Dines, mulheres fodíveis.

Para uma mulher ser colocada nesse categoria que mencionei por última, basta você apresentar extrema dependência masculina, pois isso fará com que você não questione a sua função na vida dos homens, muito menos a deles na sua vida. Marilyn é uma sex symbol, uma it girl, uma mulher fodível, mas calma, tudo isso esquematizado pelo sistema patriarcal que não permite que mulheres sejam brilhantes apenas com seus cérebros.

Uma pena as mulheres viverem suas vidas assim. Uma pena mulheres como ela darem fins em suas vidas porque percebeu que sua única função nos moldes patriarcais era ser usada por homens. Até por aqueles que fingiam a amar.

A ausência paterna na vida de Marilyn parece ser o grande desastre e é, claro. Pois é irresponsabilidade do genitor, além de abandono, o que deveria ser crime, mas as leis beneficiam os seus criadores: homens. Daí, a a partir dessa ideia de ausência paterna, Marilyn desenvolve uma grande dependência dos homens, o que a psicanálise freudiana tem uma resposta, mas eu tenho outra: homens ferram com as vidas de meninas e mulheres mesmo quando não fazem nada!

O fato dela de ser sozinha, na esperança de um dia encontrar seu pai, faz com que ela viva dentro de um sistema de heteropatriarcado no seu auge da violência: estupros, abusos psicológicos, hipersexualização e abortos.

A vida de Marilyn pode ser a vida de qualquer garota que viva no sistema patriarcal. Homens nos violentam diariamente, o que fica claro ali em 2h09min de filme! Sim, o que você assistiu é pornografia, meu amor! Categoria essa que você encontra em qualquer x.site por aí, mas, como disse: é disfarçado de arte.

Violência contra a mulher não é arte! Não deveria ser!

A todo momento vemos Marilyn sendo desumanizada e reduzida à sua beleza, ou seja, objetificada. A todo momento vemos Marilyn querendo apenas ser humanizada, amada, cuidada, vista e não só objetificada, mas toda vez que homens falam de Marilyn colocam ela como “loura burra”, ou seja, a mulher que, de fato, ia se matar aos 36 anos. Por isso, humanidade, nunca reduzam nenhuma mulher à sua beleza, por mais bela que ela seja, pois isso adoece mulheres, porque controla mulheres.

Sempre defendi Monroe. Sempre defendi Norma Jeane Mortenson, que tinha sonhos, vontades, voz, pensamentos, desejos e

ERA HUMANA.

Imagem: a soma de todos os afetos

Me dói saber que ainda, em 2022, mulheres com suas inúmeras genialidades é colocada como louca, ou para ser aceita dentro do sistema, é colocada como objeto. Isso ainda existe. Tenho certeza que Marilyn só queria ser como nós, uma mulher realizando seus sonhos para além do que o olhar masculino vê.

Fiquem bem, queridas.

Que a luta continue para que marilyns sejam sempre humanizadas.

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Abraços científicos,

Historiadora Radical

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gi del fuoco

Como me ensinaram a linguagem, vou usá-la afiada.