Black Mirror (2023): como somos condenadas a ceder e não a consentir

gi del fuoco
3 min readJul 18, 2023

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Adianto que mesmo que eu tenha curtido todos os episódio da 6ª temporada, irei apenas falar sobre o episódio 1 “Jane Is Awful” ou “Jane é péssima”.

Google Imagens

Parece até mesmo uma piada com a nossa cara quando a Netflix faz mais autocrítica do que nós que críticamos. Na verdade, a Netflix está tão bem resolvida que ela pode facilmente provocar seu próprio cancelamento assistido, ou seja, um cancelamento por assinatura. Olha lá o capitalismo mais uma vez.

Nada me impressiona também de eu estar aqu escrevendo sobre uma série que não me pagou 1 centavo por esse trabalho, mas como somos condicionadas a ceder há uma explicação.

De longe, esse episódio me chamou atenção sobre os artifícios da I.A e de como aceitamos(?) facilmente em nossas vidas. O mais interessante é que só podemos questionar os efeitos coletareis quando já consumimos, nunca antes. E não foi diferente nesse episódio, e como é de práxis vou por parte.

Jane não é uma personagem interessante, nem mesmo uma personagem que gostaríamos de ser, embora ela tenha uma vida financeiramente interessante, né? E isso que é interessante, qualquer pessoa pode se tornar uma grande protagonista se tiver a desgraça ao seu favor. Nesse caso, se tiver a tecnologia contra você mesma.

Piadas a parte, é interessante perceber que quando somos vistas por outras pessoas, essas pessoas podem criar inúmeras narrativas sobre nós mesmas, inclusive nos fazer questionar sobre quem somos. As redes sociais possui um poder imenso sobre isso, nelas você pode contar uma história linda, viver uma vida de dar inveja e as pessoas veem somente aquilo que você mostra, e começam a trabalhar com aquilo que veem, claro que, muitas vezes, elas vão ampliar o que veêm para também se sentir menos inútil. Exemplo:

Ninguém vai perder tempo falando de uma pessoa que não é interessante (mesmo se ela for), então, basicamente, elas criam uma personagem em cima da personagem que elas conhecem. Sabe os tais seguidores? Pronto, o roteiro está dado!

O que você realmente é se perde. A dissociação acontece. Seus desejos estão corrompidos, suas verdades são manipuladas e você, ah, quem é você mesmo?

Por isso as redes sociais adoecem as pessoas, por criar um mundo irreal, possibilitando uma ilusão forjada na falsa verdade e assim você enlouquece. Mas a história fica pior.

Quando temos Selma Hayek, basicamente, vendendo sua imagem, somente sua imagem não a si mesmo, então espera ai:

NOSSA IMAGEM NÃO SOMOS NÓS?

Bingo!

É isso que o capitalismo está te fazendo acreditar, mais uma vez, que sua imagem não é você, mas não existe isso, viu? A dissociação é um mecanismo patriarcal, agora, mais capitalista do que nunca. Não tem como existir sua imagem se não existe você! Então, você consegue ver os perigos da I.A no mundo patriarcal e capitalista? Claro que não é novidade que há casos de sites pornográficos usar imagem de mulheres para “fazer vídeos fakes”. Agora não é diferente, mas somos nós mesmas que estamos distribuindo essas imagens por ai, assinando termos de consentimento para ter uma I.A bonitinha de você com seu filho, mesmo você sabendo que não queria ser mãe.

Sobre dissociação leia esse meu texto.

Bom, o poder do capitalismo usar da tecnologia para nos fazer “menos nós” é algo velho, né? Inclusive para as mulheres. O que vocês acham que são as maquiagens e todas as propagandas que insistem em promover a insatisfação na mulher? Exatamente! Fazer com que ela não se veja mais como ela e queira ser aquela outra ali da revista cheia de fotoshop, filtro e cirurgias estranhas.

Mas essas narrativas ainda carregam um que de “mas eu fiz isso porque eu quis”. Claro! Acreditamos!

Na sociedade somos condicionadas a ceder e não a consentir, aliás, já deixei claro na leitura de maio do nosso Clube de Teoria e Leitura Libertárias que o famoso consentimento foi criado por homens, né?

Quer aprender sobre isso do consentimento, basta vir aqui!

Então, por fim, apresentamos a versão que queremos que as pessoas vejam, por isso é fácil forjar personagens, e as pessoas veem aquilo que elas estão socializadas a ver, comentam sobre aquilo que terá mais aceitabilidade…

No final, somos todos perfeitos diante da tecnologia… ou estamos na busca eterna dessa perfeição…

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gi del fuoco
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Written by gi del fuoco

Como me ensinaram a linguagem, vou usá-la afiada.

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